segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Então tu serás feliz!


Todo ser humano está em busca de sua felicidade. Nós nos movemos, nos motivamos, nos desinstalamos em direção daquilo que nos fará felizes. Mas por que muitos são tão infelizes e insatisfeitos? Este é o questionamento que perpassa o Evangelho deste último domingo em que Jesus nos apresenta dois banquetes: o dos primeiros lugares e o dos pobres, coxos, aleijados... Se não levarmos em consideração a consequência de tais atos: Então tu serás feliz! Seguir os preceitos de Cristo torna-se loucura e ilusão.

Após observar a atitude dos convidados, Jesus diz que devemos escolher o último lugar, viver desapercebidamente. Para o ser humano contemporâneo, isso é uma loucura. Queremos ser os melhores, ocupar os lugares de destaque, de honra e muita distinção. Em contrapartida, Jesus nos aponta o caminho da humildade. Mas quem é o humilde? A palavra humildade vem de humus (terra, barro). Pela fé, acreditamos que fomos feitos do barro pelo escultor divino, o nosso Criador. Nesse sentido, somos todos iguais e pisamos o mesmo chão. Nossa vida depende d'Ele que nos fez dependentes também uns dos outros. Olhando para o outro, eu me vejo, e o outro deve se enxergar em mim. Então por que criamos tantas diferenças?

Para Santa Teresa Ávila, "humildade é a verdade". Ou seja, segundo a grande doutora carmelita, quanto mais assumimos nossa verdade, o que somos, nossos sentimentos, nossas alegrias, nossas limitações, nossos erros, nossas esperanças, mais humildes nos tornamos. Nesse sentido, quanto mais nos escondemos, criamos máscaras, fingimos ser o que não somos, nos tornamos orgulhosos, arrogantes e nos sentimos mais e melhores do que os outros. Este acaba afastando de perto de si, todos aqueles que procuram viver a sua verdade, a sua vida com transparência. Vive uma ilusão, vive em um mundo que não existe. Um triste mundo, num mundo que para ele, é muito triste!

Já no outro banquete apresentado por Jesus, ele espera que nós não convidemos nossos parentes e amigos para as nossas festas, mas os aleijados, os coxos, os pobres... Temos que ser muito honestos e reconhecer que esta verdade não faz parte da nossa realidade. Quem de nós prepara um banquete para os preferidos do Senhor? Os nossos preferidos são outros. Acreditamos que grandes mudanças, passam por pequenas atitudes. Olhando para nossas escolhas à luz da vida cristã, reconhecemos que procuramos prezar pela organização dos nossos Domingos, Dia do Senhor. Vamos à missa, preparamos um banquete para os nossos familiares e amigos; descansamos, conversamos... Até aí não há nada de errado. Mas como fica esta passagem do Evangelho?

Ao longo do ano temos aproximadamente 50 domingos. Diante disso eu me pergunto: será que em algum deles eu me dediquei aos preferidos do Senhor? Será que eu tenho coragem de dizer aos meus familiares e amigos num domingo, hoje me dedicarei àqueles que ninguém se dedica? Tenho a coragem de fechar a porta da minha casa e ir ao encontro de um enfermo, ou visitar um asilo ou uma casa de recuperação de dependentes? São pequenas grandes provocações que o Senhor nos faz nesta semana. Temos dificuldade de lidar com a gratuidade porque somos poucos gratuitos. Olhamos sempre o nosso lado particular ou o que ganharemos com tais atos. Pensamos sempre em nós, em nosso pequeno mundo e nos esquecemos de quem está do outro lado, no mundo real.

Por fim, qual é o sentido de tudo isso? Por que nos desafiarmos a mudar nosso pensamento e nossas atitudes? Porque simplesmente acreditamos na Palavra do Senhor. Temos nela um Caminho para nossa Vida. Porque para nós é a Verdade Suprema. Encontramos em nosso dia-a-dia muitas propostas de alegria e felicidade. O mundo não cansa de nos apresentar seus meios e possibilidades. Para nós só existe uma: a proposta de Jesus Cristo. É acreditando que seremos mais felizes, mais alegres, um pouco mais próximos da realização, que procuraremos ser mais humildes e gratuitos. O mundo tem sede disso. O ser humano espera isso. Quem está ao nosso lado experimentará essa realidade, se ao menos acreditarmos nisso e nos esforçarmos para tornar isso presente em nossa vida.



segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Um Tesouro tão distante e tão próximo




Toda nossa vida é uma constante busca. Estamos sempre seguindo em direção de algo. Fisiologicamente todo nosso organismo está num constante movimento de busca. Nossas células precisam de alimento, nosso sangue percorre milhares de quilômetros para alimentá-las e cumprir o seu papel, nosso coração bate preocupado em garantir pressão para que o sangue cumpra sua tarefa. Instintivamente estamos em busca daquilo que nos garante a sobreviência: ar, água, alimentos, calor, proteção. Existencialmente precisamos de afeto, de carinho, cuidado, de relacionamentos. Mas só isso não basta.

É assim que compreendemos que nossa vida, em todo o seu ser, é um reflexo daquilo que realmente somos e ansiamos. Estamos em busca da razão de nossa vida. Nessa dimensão surge, então, a realidade presente no ser humano que dá razão a todas as outras: a espiritualidade, cujo dinamismo associa-se à fé. Não uma fé qualquer. Mas uma fé bem determinada que, em meio ao Mistério, tem suas próprias razões. É vivendo esta fé que a vida passa ter um sentido e a nossa busca não se limita apenas ao campo fisiológico ou existencial, mas se abre ao horizonte do inifinito, do ilimitado e imperecível.

A divindade que habita em nós nos impulsiona ao Criador, tornando presente, pela fé, aquilo que se espera, dando consistência à nossa busca, fundamentando nossa esperança. Desse modo, percebemos que o ser humano se configura naquilo que espera, ou seja, somos aquilo que esperamos. E o que esperamos? Deus, em sua plenitude e totalidade. Ele é o nosso Tesouro! Afirmamos facilmente que Deus é o nosso Tesouro. Jesus disse: "Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração" (Lc 12,34). Porém, percebemos que nem sempre nossas buscas, nossos esforços e sacríficios se voltam na conquista desse tesouro. Nosso coração se encontra repleto de tantas coisas e preocupações e reconhecemos que nossos pequenos tesouros ocuparam o lugar do único e verdadeiro Tesouro.

Precisamos diariamente fazer nossa opção em buscar este Tesouro. Somos tentados o tempo todo em subsituir a preciosidade deste tesouro por coisas tão perecíveis e passageiras. Se afirmamos que somos o que esperamos e me desgasto demais com as coisas deste mundo, acabo me tornando uma matéria a mais em meio a tudo que existe. Entretanto, à medida que espero em Deus, em sua Palavra, a sua Verdade e a sua Vida, todas essas realidades crescem em mim, se concretizam em minhas opções. Passo a reconhecer que este Tesouro tão distante tem parte de sua preciosidade escondida dentro de mim, lá onde o dono do Tesouro reservou seu espaço que não pode ser preenchido por nada nem por ninguém a não ser por Ele mesmo, razão do nosso existir.